domingo, 10 de fevereiro de 2019

Renda Variável - Redes Sociais

Tenho participado de alguns grupos relacionados ao assunto “renda variável” nas redes sociais, em especial no Facebook e Whatsapp. O objetivo é aprender um pouco e, também, contribuir no que for possível com os novos investidores, repassando parte das experiências por que passamos ao longo dos anos.

Mas preciso confessar: está difícil...

Uma minoria está em um estágio tão incipiente, que deveria procurar primeiramente outras formas de aprendizado, como cursos ou a ajuda de pessoas próximas, que tenham alguma vivência do assunto.

As perguntas típicas são:

- Qual a melhor corretora? Qual o valor da corretagem? (Certamente uma rápida pesquisa responderia facilmente essa pergunta, evitando redundância e dezenas de opiniões desencontradas)

Outra:

Até quando a ação X vai subir? Devo vender agora? (Resposta que absolutamente ninguém te dará com um mínimo de precisão)

Ou mesmo:

- Olha só o percentual da ação Y no leilão (um mínimo de acompanhamento permitiria saber que é absolutamente normal uma grande variação de um papel durante a formação de preço de abertura ou fechamento do mercado)

A maioria, no entanto, encontra-se num estágio ainda mais preocupante: são aqueles que aprenderam um mínimo e adotam uma postura de sabe-tudo, tentando passar uma imagem de gênio dos negócios.

As frases típicas desse segundo grupo são:

- Isso é renda variável, amigo! (resposta vazia, arrogante e desqualificante a alguém que pergunta por que determinado ativo está caindo ou subindo)

Ou

- Eita que essa queda pegou a sardinhada assustada! (Postura de quem se acha o maior dos tubarões, ou, no mínimo, uma sardinha com dotes especiais...)

Ou ainda:

- Hora de comprar a opção call do ativo X e ficar rico! (como se o perigoso e complexo mundo das derivativos fosse a coisa mais simples do mundo...)

Há ainda aqueles que estão sempre tentando vender alguma coisa (cursos, consultorias, relatórios), com promessas de ganhos estratosféricos. Nesse contexto, fica até difícil distinguir aqueles que realmente têm algo de bom, que realmente agregue algum valor ao adquirente. Os mais espertos atiram de todos os lados (redes sociais, cookies, e-mails e até contato telefônico direto).

Por fim, temos os mal-intencionados, que tentam vender falcatruas, em especial as famosas pirâmides, que – por incrível que pareça – ainda conseguem pegar muita gente, notadamente aqueles incautos que sucumbem ao canto da sereia, de ganho fácil e de risco zero (como se isso existisse).

Outra característica das redes sociais é que a quantidade de posts aumenta significativamente em momentos de euforia do mercado, demonstrando uma postura muito mais de torcedor do que qualquer outra coisa. Como diz o poeta, “falam demais por não ter nada a dizer...”

Tem ainda os profetas do apocalipse ou aqueles do fato consumado. “Eu sabia que ia bombar!”... “Tava óbvia demais essa queda”... “Eu deveria ter vendido quando bateu R$ X, estaria recomprando agora e embolsando um bom lucro”... Depois do corrido, parece fácil antever o comportamento do mercado.   

Em boa parte dos posts fica até difícil entender o que o indivíduo está querendo dizer, pois vírgulas, concordância gramatical e regras básicas do nosso idioma são absolutamente negligenciados. É um tal de confundir “mas” com “mais”, “nada haver”, raciocínio desconexo, etc. 

Infelizmente, a total falta de humildade e de uma visão isenta de si mesmo – e do real estágio de seu nível de (des)conhecimento e vivência do mercado – resultará em perdas pesadas no médio/longo prazo para muitos, e o aprendizado virá da pior forma.

O mercado, aliás, é reflexo da nossa sociedade, cada vez mais consumista, imediatista e despreparada, onde impera a falta de auto-crítica e de coerência entre discurso e prática, um país onde muitos se dizem contra a corrupção, mas no fim das contas, são apenas contra a corrupção dos outros.

Mas vamos acreditar que as coisas irão melhorar, com cada um fazendo a sua parte e contribuindo com o que for possível para a melhoria desse quadro.