Tenho participado de alguns
grupos relacionados ao assunto “renda variável” nas redes sociais, em especial
no Facebook e Whatsapp. O objetivo é aprender um pouco e, também, contribuir no
que for possível com os novos investidores, repassando parte das experiências
por que passamos ao longo dos anos.
Mas preciso confessar: está
difícil...
Uma minoria está em um estágio
tão incipiente, que deveria procurar primeiramente outras formas de
aprendizado, como cursos ou a ajuda de pessoas próximas, que tenham alguma vivência
do assunto.
As perguntas típicas são:
- Qual a melhor corretora? Qual o
valor da corretagem? (Certamente uma rápida pesquisa responderia facilmente
essa pergunta, evitando redundância e dezenas de opiniões desencontradas)
Outra:
Até quando a ação X vai subir?
Devo vender agora? (Resposta que absolutamente ninguém te dará com um mínimo de
precisão)
Ou mesmo:
- Olha só o percentual da ação Y
no leilão (um mínimo de acompanhamento permitiria saber que é absolutamente
normal uma grande variação de um papel durante a formação de preço de abertura
ou fechamento do mercado)
A maioria, no entanto,
encontra-se num estágio ainda mais preocupante: são aqueles que aprenderam um
mínimo e adotam uma postura de sabe-tudo, tentando passar uma imagem de gênio
dos negócios.
As frases típicas desse segundo
grupo são:
- Isso é renda variável, amigo! (resposta
vazia, arrogante e desqualificante a alguém que pergunta por que determinado
ativo está caindo ou subindo)
Ou
- Eita que essa queda pegou a
sardinhada assustada! (Postura de quem se acha o maior dos tubarões, ou, no
mínimo, uma sardinha com dotes especiais...)
Ou ainda:
- Hora de comprar a opção call do ativo X e ficar rico! (como se o
perigoso e complexo mundo das derivativos fosse a coisa mais simples do mundo...)
Há ainda aqueles que estão sempre
tentando vender alguma coisa (cursos, consultorias, relatórios), com promessas
de ganhos estratosféricos. Nesse contexto, fica até difícil distinguir aqueles
que realmente têm algo de bom, que realmente agregue algum valor ao adquirente.
Os mais espertos atiram de todos os lados (redes sociais, cookies, e-mails e até contato telefônico direto).
Por fim, temos os
mal-intencionados, que tentam vender falcatruas, em especial as famosas
pirâmides, que – por incrível que pareça – ainda conseguem pegar muita gente, notadamente
aqueles incautos que sucumbem ao canto da sereia, de ganho fácil e de risco
zero (como se isso existisse).
Outra característica das redes
sociais é que a quantidade de posts
aumenta significativamente em momentos de euforia do mercado, demonstrando uma
postura muito mais de torcedor do que qualquer outra coisa. Como diz o poeta,
“falam demais por não ter nada a dizer...”
Tem ainda os profetas do
apocalipse ou aqueles do fato consumado. “Eu sabia que ia bombar!”... “Tava
óbvia demais essa queda”... “Eu deveria ter vendido quando bateu R$ X, estaria
recomprando agora e embolsando um bom lucro”... Depois do corrido, parece fácil
antever o comportamento do mercado.
Em boa parte dos posts fica até difícil entender o que o
indivíduo está querendo dizer, pois vírgulas, concordância gramatical e regras
básicas do nosso idioma são absolutamente negligenciados. É um tal de confundir
“mas” com “mais”, “nada haver”, raciocínio desconexo, etc.
Infelizmente, a total falta de
humildade e de uma visão isenta de si mesmo – e do real estágio de seu nível de
(des)conhecimento e vivência do mercado – resultará em perdas pesadas no
médio/longo prazo para muitos, e o aprendizado virá da pior forma.
O mercado, aliás, é reflexo da
nossa sociedade, cada vez mais consumista, imediatista e despreparada, onde
impera a falta de auto-crítica e de coerência entre discurso e prática, um país
onde muitos se dizem contra a corrupção, mas no fim das contas, são apenas
contra a corrupção dos outros.
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